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29 de dezembro de 2006
A TV ,o povo e a ciência

O que é genuíno fica bem na TV.

O que é genuíno normalmente é verdadeiro e honesto.

E a camera de televisão - enquanto olho do espectador - consegue destilar a verdade intrínseca à imagem apresentada.

Mas nem sempre é assim.

Se nas campanhas eleitorais a imagem das peixeiras no mercado do peixe de Matosinhos conseguem emprestar esse lado genuíno à fraqueza falsa e plástica dos candidatos/políticos nos casos de tragédia e miséria humana a fronteira é mais ténue.


A imagem do pai da Sara - a menina que ontem morreu em Monção - era duma serenidade assustadora. Como se a televisão o aliena-se do facto da sua filha ter morrido. Era duma assustadora serenidade. Como se algo de longínquo se tivesse passado numa qualquer família do Japão.

Pelo contrário a imagem da mãe, mesmo sem palavras, abre pistas de interpretação mediática que legitimamente podemos já adivinhar.

E é aqui que entram mais 3 actores. O estado, a ciência e o povo.

O Estado na pessoa da Segurança Social à rasca porque não conseguiu proteger uma criança da sua sorte.

O mesmo estado tentando via Tribunal remediar a questão. Mas nomeando um juíz especialista em Trabalho para avaliar um caso de possível homicídio por maus tratos.

E finalmente o Povo. Que logo que soube que uma criança havia morrido, escolheu o seu lado na contenda e condenou os pais, principalmente a mãe.

O Povo viu tudo na TV. E Povo mais próximo quis ainda ir ver e insultar a mãe à porta do tribunal.

Mas quando o mesmo Povo se sentar logo no sofá a ver o Telejornal, apenas vai tentar espreitar se aparece na televisão.

São os sentimentos básicos a funcionar em pleno.

O Ego, a Vingança.


Então e a ciência?

Que pode dar respostas.

Cito o jornal Correio da Manha

"A médica legista que ontem autopsiou o corpo de Sara não tem a mais pequena dúvida: a menina, de dois anos, morreu vítima de maus tratos.

O relatório de autópsia, a que o CM teve acesso, revela a existência de lesões traumáticas significativas no crânio, tórax e abdómen – ferimentos que, segundo o documento, “foram inequivocamente responsáveis pela morte”.


Mas o Povo e a TV já não quere saber da ciência.

É que a personagem principal da telenovela é agora a Mãe.

A vilã da história.

Seguem-se os capítulos do funeral e do julgamento.

Até à próxima.



















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